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Entrevista com Liana Yuri

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Tive a oportunidade de entrevistar a artista plástica e engenheira de papéis, Liana Yuri Shimabukuro. Paulista de Santo André, ela­ aprendeu a fazer pop-ups desconstruindo os livros. Formada em Educação Artística e Licenciatura em Letras com especialização em Gestão Cultural também teve aulas com a mestra-professora Naomi Uezu, onde aperfeiçoou a sua técnica.

Pernambuco em pop-up: Como e por que surgiu seu interesse pela engenharia do papel?

Liana Yuri: Como surgiu eu nunca saberei ao certo. Talvez nasceu de uma curiosidade que vem desde criança de entender os mecanismos que tanto nos encanta. Talvez cresceu junto comigo em uma casa rodeada de papeis. Para mim a engenharia de papel é o interesse por compreender os mecanismos e a possibilidade de construir coisas. É a possibilidade de olhar o mundo com os olhos de quem criar.

Pernambuco em pop-up: Quais as dificuldades que você encontrou para explorar esta técnica tão incomum aqui no Brasil?

Liana Yuri: Primeiramente a pouca informação em uma época em que não havia tanto acesso ao conhecimento do exterior como agora temos pela internet. Outra coisa era os poucos livros e materiais que por aqui chegavam e sempre muito inacessíveis financeiramente.

Pernambuco em pop-up: Quantos livros você já publicou?

Liana Yuri: Nunca publiquei nenhum livro “oficialmente”. Digo “oficialmente”, pois já criei diversos livros independentes.

Pernambuco em pop-up: Queria que você explicasse um pouco sobre os processos de produção dos livros?

Liana Yuri: Os livros que realizei foram feitos em processos mais artesanais. As impressões foram em gráficas de pessoas conhecidas onde foi possível o acompanhamento mais atento das impressões assim como a realização das facas, vincos e dos cortes. Eu sempre realizo a montagem. Esse é o trabalho mais minuncioso do processo para que todos os mecanismos funcionem de acordo com o que você criou. Sempre é necessário nesta etapa algum tipo de ajuste mais refinado e atento.

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Pernambuco em pop-up: Quantos livros pop-­ups você já criou?

Liana Yuri: Muitos. Não sei na verdade o número. Acho que nunca contei. A maioria dos livros foram projetos de engenharia de papel para experimentações de projetos de cenografias, de intervenções artísticas e de animação.

Pernambuco em pop-up: Como você escolhe os assuntos de suas histórias?

Liana Yuri: Normalmente a escolha dos assuntos dos livros são escolhidos por quem solicita o projeto. Os assuntos dos livros independentes que criei foram relacionados com a exploração das formas e da ação do leitor sobre ela.

Pernambuco em pop-up: Qual dos livro pop-­up que você já criou, é seu favorito?

Liana Yuri: O meu favorito são pequenos livros que misturam teatro de animação com os livros interativos pop-­ups. Foram criados quando estava em uma pequena ilha no Pará mergulhada em uma residência artística com um grupo local. Chamam­-se “Teatro Frame”.

Pernambuco em pop-up: Você ilustra seus livros?

Liana Yuri: Depende, a maioria dos livros são ilustrados por ilustradores devido aos projetos virem planejados.

Pernambuco em pop-up: Existe algum estilo artístico de ilustração em particular que você goste de integrar ao seu trabalho?

Liana Yuri: Eu particularmente gosto de ilustrar os livros com a técnica da colagem pois acredito que tenha a ver com a proposta dos livros interativos e seus mecanismos.

Pernambuco em pop-up: Você tem preferência por uma ou mais técnicas em particular?

Liana Yuri: Tenho preferência em trabalhar com as técnicas do Kirigami que são cortes e dobras utilizando somente um papel.

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Pernambuco em pop-up: Qual a sua metodologia de projeto, em se tratando de livros pop-­up? Você segue alguma?

Liana Yuri: A experimentação constante. Acredito que esta seja a metodologia, pois somente na prática, ou seja, colocando a “mão na massa” é que você consegue descobrir a melhor maneira de lidar com o material e os mecanismos. Existem as técnicas pré estabelecidas mas quando se descobre outros desdobramentos aí é que a coisa fica interessante. As oficinas com as crianças são incríveis quando se trata de experimentação. Elas sempre percorrem caminhos diferentes do que estamos acostumados a percorrer.

Pernambuco em pop-up: Que ferramentas você utiliza quando está fazendo seus pop­-ups, tipo de cola, papel, etc?

Liana Yuri: Utilizo tesoura, estilete, cola bastão e papel basicamente. Muitos pedacinhos de várias gramaturas.

Pernambuco em pop-up: Você tem alguma referência de designers que utilizam a técnica fora do Brasil?

Liana Yuri: Eu sou muito fã da Carol Barton (a artista que fiz a residência artística no EUA quando tive a oportunidade de acompanhá­-la pelo intercâmbio do Ministério da Cultura). Gosto muito do trabalho do David Carter que propõe diferentes olhares para as técnicas e também gosto muita da arte de Marion Bataille.

Pernambuco em pop-up: Aqui no país, você tem ou teve contato com alguém que estudasse ou fosse familiarizado com a engenharia do papel?

Liana Yuri: Aqui no Brasil o estudo da engenharia do papel é somente para a indústria, ou seja, voltado para a fabricação do papel. A engenharia do papel que fora do Brasil chamam de “paper engineer” é pouco especializado mas alguns cursos de design passam seus conceitos e práticas. Eu tive contato com a professora Naomi Uezu que dá aulas e faz trabalhos com a técnica do Kirigami. Ela estudou no Japão.

Pernambuco em pop-up: Os livros pop­-ups parecem ainda resistir, em um mundo cada vez mais digital. Por que você acha que a engenharia de papél é importante hoje? A técnica pode soar como obsoleta para alguns, o que você pensa sobre isso?

Liana Yuri: Acredito que o livro digital e outras coisas do “mundo digital” foram criados para nos acrescentar, ou para suprir algo e por isso também nos encanta. Os livros pop­-ups eu não acredito que são obsoletos, ao contrário, se tornam mais encantadores por não ser digital, por não ser virtual. Podemos ver os mecanismos, podemos sentir suas texturas, tocar em suas imagens e descobrir como fazê-­los. E criá-­los com materiais simples. Acho que a engenharia de papel é importante pelas suas possibilidades. É possível criar formas encantadoras com um papel e uma tesoura. É possível expandir a leitura somente com a forma, a leitura do material e não somente com a visão. Assim como explorou Bruno Munari, artista Italiano no trabalho dos pre Libris.

Pernambuco em pop-up: Existe editoras nacionais que publicam aqui no Brasil? Quais?

Liana Yuri: Sim, tem editora Belas ­Letras e a editora Demônio Negro que me lembre. Outras somente compram os direitos de livros internacionais.

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Pernambuco em pop-up: Quais as melhores editoras, pensando aqui e fora do Brasil?

No Brasil acredito que a Cosac Naify (que tem livros interativos com algumas propostas pop­- ups), e fora eu não tenho muito conhecimento.

Pernambuco em pop-up: Onde pode­-se aprender a criar pop­-ups aqui no país?

Liana Yuri: Aqui no Brasil, pode­-se aprender no meu atelier que fica em São Paulo. Eu somente conheço professores que davam aulas em escolas com algumas técnicas, mas não exatamente de livros pop­-ups.

Pernambuco em pop-up: Sobre suas oficinas, qual o perfil de seus alunos? Você tem vários modelos de cursos, dependendo do seus perfis?

Liana Yuri: O perfil dos alunos são variados. São pessoas interessadas em estímulo à leitura, design e contadores de histórias. A crianças também sempre se interessam pelas oficinas. As oficinas possuem diversas metodologias e objetivos dependendo do interesse dos envolvidos.

Pernambuco em pop-up: Você costuma oferecer suas oficinas fora de São Paulo? Por onde suas oficinas já passaram?

Liana Yuri: Sim, As oficinas e cursos já passaram por diversas cidades dos estados: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará.

Pernambuco em pop-up: Bem, se você tiver alguma colocação a mais que você queira dizer fica livre, ok?

Liana Yuri: Meus projetos são muito voltados para a educação para que cada um possa multiplicar esta arte. Não somente saber as técnicas, mas saber o que todo este mundo ­livro pode gerar durante o contato com o leitor, com o criador do livro e principalmente durante o processo. Eu acredito que os livros pop­- ups ainda são muito inacessíveis. Acredito no livro que circula e que temos acesso para que nos encante que nos poetize e que nos façam mudar nossa visão no mundo. Por tudo isso acredito que quanto mais possamos criar livros pop­-ups e que possamos expandir nosso pensamento sobre as leituras, melhor seremos.

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